Manter a atenção dos alunos em sala de aula já é, por si só, um grande desafio. Quando falamos de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), esse desafio se intensifica. O TDAH é um transtorno neurobiológico que afeta o desenvolvimento da atenção, do controle dos impulsos e da autorregulação, impactando diretamente o comportamento e o rendimento escolar.
Para esses alunos, ambientes muito estimulantes, tarefas longas ou rotinas pouco estruturadas podem dificultar ainda mais a concentração. Por isso, contar com estratégias específicas e bem planejadas faz toda a diferença no processo de aprendizagem.
Este artigo foi pensado especialmente para professores que desejam melhorar a experiência em sala de aula com alunos que têm TDAH. Aqui, você vai conhecer 5 técnicas práticas e eficazes que podem ser aplicadas no dia a dia para manter o foco e promover um ambiente mais inclusivo e produtivo para todos.
Entenda o TDAH em Sala de Aula
Compreender o comportamento dos alunos com TDAH é o primeiro passo para criar um ambiente de aprendizado mais acolhedor e eficaz. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade se manifesta, principalmente, por três características: desatenção, impulsividade e hiperatividade. Na prática, isso significa que o aluno pode ter dificuldade para se concentrar por longos períodos, agir sem pensar e se movimentar constantemente, mesmo em momentos em que é esperado que esteja parado ou quieto.
Esses comportamentos não são resultado de má vontade ou falta de educação, mas sim de um funcionamento cerebral diferente. Por isso, muitos professores enfrentam desafios ao tentar aplicar métodos tradicionais de ensino. Aquelas estratégias que funcionam bem com a maioria da turma — como explicações longas, lições extensas e atividades repetitivas — muitas vezes não surtem o mesmo efeito com estudantes com TDAH.
Além disso, esses alunos costumam ter dificuldades para seguir instruções com múltiplas etapas, manter a organização de materiais escolares e administrar o tempo durante as tarefas. Como consequência, podem parecer desmotivados ou distraídos, quando, na verdade, estão apenas sobrecarregados por estímulos que o cérebro deles processa de forma diferente.
Por isso, é essencial adotar abordagens adaptadas à forma como esses alunos aprendem e se relacionam com o ambiente escolar. Nos próximos tópicos, você verá técnicas que podem transformar sua rotina em sala de aula e melhorar significativamente o engajamento e o rendimento desses estudantes.
Técnica 1: Dividir Atividades em Etapas Menores
Para alunos com TDAH, uma tarefa longa ou complexa pode parecer uma montanha difícil de escalar. Quando veem uma atividade extensa pela frente, muitos se sentem sobrecarregados antes mesmo de começar, o que pode levar à procrastinação, frustração ou até à desistência. Isso acontece porque o cérebro de quem tem TDAH tende a ter dificuldade em organizar e planejar ações de forma linear.
Uma estratégia simples e muito eficaz para contornar esse problema é dividir as atividades em pequenas etapas, claras e objetivas. Em vez de apresentar uma única instrução longa, o professor pode quebrar a tarefa em partes menores, oferecendo orientações passo a passo.
Exemplo prático:
Em vez de dizer:
“Escrevam uma redação sobre o meio ambiente com introdução, desenvolvimento e conclusão”,
diga:
Passo 1: Liste três problemas ambientais que você conhece.
Passo 2: Escolha um desses problemas para desenvolver.
Passo 3: Escreva uma frase de introdução explicando o tema escolhido.
Passo 4: Escreva dois parágrafos com ideias sobre o problema e possíveis soluções.
Passo 5: Conclua com uma frase resumindo sua opinião.
Essa divisão ajuda o aluno a focar em uma etapa por vez, tornando a tarefa mais acessível e gerando pequenas conquistas ao longo do processo. Além disso, esse método reduz a ansiedade e aumenta o senso de competência, já que o aluno percebe que é capaz de avançar com sucesso, mesmo que em pequenos passos.
No final das contas, não se trata de “facilitar demais”, mas sim de ajustar o formato da atividade ao estilo de aprendizagem do aluno, promovendo inclusão e valorizando o potencial de cada um.
Técnica 2: Uso de Reforço Positivo
Alunos com TDAH, como qualquer outro, se beneficiam imensamente do reconhecimento por seus esforços. No entanto, no caso deles, o uso do reforço positivo se torna ainda mais importante para incentivar comportamentos adequados e fortalecer a autoestima — que, muitas vezes, está fragilizada por anos de críticas, punições e comparações negativas.
O reforço positivo consiste em elogiar, recompensar ou valorizar uma atitude correta ou desejada assim que ela acontece. Pode ser feito por meio de palavras de incentivo (“Muito bem por terminar essa etapa sozinho!”), símbolos visuais (adesivos, estrelas, pontos), pequenas recompensas (tempo extra no recreio, escolha de uma atividade divertida) ou privilégios simbólicos (ser o ajudante do dia, escolher o próximo tema de trabalho).
O segredo está no momento certo: o reforço precisa ser imediato, ou seja, dado logo após o comportamento esperado. Isso ajuda o cérebro da criança a associar rapidamente a ação com uma consequência positiva, facilitando a repetição desse comportamento no futuro. Esperar muito tempo para elogiar pode fazer com que a conexão entre ação e recompensa se perca.
Por outro lado, evite punições severas ou comparações com outros alunos, pois isso pode gerar sentimentos de inadequação e aumentar a resistência à aprendizagem. Frases como “Por que você não pode ser como fulano?” ou “Você sempre faz isso errado” minam a motivação e dificultam o relacionamento entre aluno e professor.
A chave está em valorizar os avanços, por menores que sejam. Reconhecer o esforço, a persistência e o progresso — e não apenas o resultado final — é uma maneira poderosa de engajar o aluno com TDAH e criar um ambiente mais encorajador e produtivo.
Técnica 3: Criação de Rotinas Visuais e Previsíveis
Alunos com TDAH costumam se sentir mais seguros e engajados quando sabem exatamente o que esperar ao longo do dia. A imprevisibilidade e mudanças bruscas de atividade podem gerar ansiedade, desorganização e perda de foco. Por isso, uma estratégia altamente eficaz é estabelecer rotinas visuais e previsíveis, que ajudem esses alunos a se orientarem no tempo e na sequência das tarefas.
Uma rotina bem estruturada, representada de forma visual, funciona como um guia claro para o aluno. Quadros de tarefas, horários ilustrados, checklists ou até mesmo cronogramas simples fixados na parede da sala ajudam a manter a atenção, diminuir distrações e desenvolver a autonomia.
Ferramentas úteis incluem:
- Cartazes com a programação do dia ou da semana.
- Quadros com ícones representando as etapas de uma atividade (por exemplo: “ouvir”, “escrever”, “compartilhar”).
- Planners personalizados, onde o aluno pode marcar as tarefas concluídas.
- Aplicativos educativos, como o Time Timer ou o ClassDojo, que oferecem lembretes visuais e auditivos.
- Tiras de rotina individuais para alunos que precisam de acompanhamento mais próximo.
Além de apresentar a rotina, é muito importante envolver o aluno na sua construção. Pergunte o que ele acha mais difícil no dia, quais momentos ele gosta mais, e incentive-o a ajudar na criação do cronograma. Isso promove o senso de pertencimento e torna mais provável que ele se comprometa com o que foi combinado.
Quando a rotina se torna previsível e visível, o aluno com TDAH se sente mais orientado, confiante e apto a manter o foco. Com o tempo, essa previsibilidade contribui também para o desenvolvimento da autorregulação — uma habilidade essencial para o sucesso acadêmico e pessoal.
Técnica 4: Pausas Estratégicas e Atividades Físicas Curtas
Ao contrário do que muitos pensam, dar pausas frequentes aos alunos com TDAH não significa perder tempo de aula — pelo contrário, é uma forma eficaz de recuperar a atenção e melhorar o desempenho. O cérebro desses alunos se cansa mais rapidamente com tarefas que exigem concentração contínua. Sem intervalos, a tendência é que fiquem agitados, dispersos ou desmotivados.
As chamadas “brain breaks” (pausas cerebrais) são momentos curtos — de 2 a 5 minutos — em que o aluno pode se movimentar, mudar de estímulo ou simplesmente relaxar antes de retomar a atividade. Elas ajudam a “reiniciar” o foco mental, reduzem a tensão e preparam o cérebro para continuar aprendendo com mais eficiência.
Exemplos práticos de pausas e movimentos leves em sala:
- Alongamentos simples em pé, com toda a turma.
- Um jogo rápido de mímica ou estátua.
- Pular no lugar por 30 segundos.
- Caminhar até um ponto da sala e voltar.
- Respiração guiada com contagem (ex: inspirar por 4, segurar por 4, expirar por 4).
O ideal é encaixar essas pausas de forma estratégica, especialmente entre atividades que exigem alto nível de atenção, como leituras, provas ou produção de texto. Para não perder o ritmo da aula, avise com antecedência quando a pausa vai acontecer e estabeleça um tempo claro para ela. Assim, os alunos sabem que se trata de um momento planejado e que haverá uma retomada logo em seguida.
Esse tipo de dinâmica não apenas favorece os alunos com TDAH, mas costuma beneficiar toda a turma — promovendo mais movimento, leveza e engajamento no ambiente escolar.
Técnica 5: Adaptação do Ambiente de Aprendizagem
O ambiente em que o aluno estuda pode influenciar diretamente sua capacidade de foco — e isso é ainda mais verdadeiro para estudantes com TDAH. Uma sala de aula com muitos estímulos visuais, ruídos constantes ou movimentação intensa pode facilmente dispersar a atenção e dificultar a permanência nas tarefas. Por isso, adaptar o espaço físico se torna uma estratégia essencial.
Uma das primeiras medidas eficazes é reduzir estímulos visuais e sonoros ao redor do aluno. Isso pode incluir organizar o quadro com menos informações ao mesmo tempo, usar cores mais neutras na decoração próxima à carteira do aluno e evitar deixar objetos chamativos sobre a mesa. Além disso, quando possível, manter o ambiente com um nível de ruído controlado contribui bastante para a concentração.
Outra ferramenta bastante útil é o uso de fones abafadores de ruído, que não precisam necessariamente emitir som — eles apenas ajudam a isolar o aluno de conversas paralelas ou sons externos. Também é possível criar um “cantinho da concentração”, um espaço reservado da sala onde o aluno possa realizar tarefas em um ambiente mais calmo e sem distrações, sempre que necessário.
Além disso, vale considerar a flexibilidade no local de estudo. Alguns alunos com TDAH se saem melhor ao trabalhar em pé por um tempo, usar pranchetas no colo, ou mesmo sentar-se mais afastados da movimentação geral da turma. O mais importante é compreender que “igual para todos” nem sempre é o mais justo — e que pequenos ajustes podem representar grandes avanços no rendimento e bem-estar do aluno.
Adaptar o ambiente não é sobre dar privilégios, mas sim sobre remover barreiras que dificultam o aprendizado. Quando o espaço respeita as necessidades individuais, o potencial de cada estudante pode florescer com mais liberdade.
Considerações Finais
Ao lidar com alunos com TDAH, é fundamental lembrar que não existe uma fórmula única que funcione para todos. Cada criança ou adolescente tem suas particularidades, interesses, ritmos e desafios. O que funciona bem com um aluno pode não surtir o mesmo efeito com outro — e isso é completamente normal.
O papel do professor, nesse contexto, é o de experimentar, observar e ajustar. Testar diferentes abordagens, adaptar estratégias conforme a resposta dos alunos e manter uma postura flexível e acolhedora faz toda a diferença. Muitas vezes, pequenas mudanças no modo de ensinar podem gerar grandes transformações no modo como o aluno aprende.
Lembre-se: o objetivo não é “controlar” o aluno com TDAH, mas sim criar condições para que ele desenvolva todo o seu potencial, respeitando seus limites e valorizando seus progressos.