O Que Evitar na Hora de Ensinar uma Criança com TDAH (E o Que Fazer em Troca)

O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica que afeta o desenvolvimento e o comportamento, especialmente nas áreas de atenção, impulsividade e regulação da atividade motora. No ambiente de aprendizagem, essas características podem tornar o processo mais desafiador tanto para a criança quanto para os adultos envolvidos em sua educação.

Ensinar uma criança com TDAH exige mais do que boa vontade: é necessário conhecer estratégias eficazes e, sobretudo, evitar práticas que, embora comuns, podem agravar a desatenção, causar frustração ou dificultar o avanço do aprendizado. Muitas vezes, sem perceber, pais e educadores adotam métodos tradicionais que simplesmente não funcionam com essas crianças — ou até mesmo prejudicam seu desenvolvimento acadêmico e emocional.

Neste artigo, vamos apresentar alguns dos erros mais frequentes cometidos durante o ensino de crianças com TDAH e, o mais importante, oferecer sugestões práticas do que fazer no lugar. O objetivo é ajudar a criar um ambiente de aprendizagem mais positivo, acessível e produtivo, respeitando o ritmo e as necessidades únicas de cada criança.

Evite: Cobrar Resultados Imediatos

Faça em troca: Estabeleça expectativas realistas e valorize pequenos progressos

Um dos erros mais comuns no ensino de crianças com TDAH é a cobrança por resultados imediatos — como esperar que aprendam um conteúdo após uma única explicação ou que terminem uma tarefa rapidamente, como outras crianças da mesma idade. Esse tipo de pressão pode gerar ansiedade, frustração e baixa autoestima, especialmente quando a criança percebe que não está conseguindo corresponder às expectativas.

Crianças com TDAH costumam precisar de mais tempo e repetições para consolidar o aprendizado. Além disso, seu desempenho pode variar bastante de um dia para o outro, dependendo de fatores como sono, alimentação, ambiente e humor.

Em vez de cobrar resultados rápidos, a melhor abordagem é estabelecer metas claras, possíveis e ajustadas ao ritmo da criança. Valorize cada pequeno avanço — seja completar uma atividade, manter o foco por mais tempo ou lembrar de uma informação aprendida anteriormente. O reforço positivo, mesmo para conquistas aparentemente simples, tem um papel fundamental no fortalecimento da autoconfiança e na construção de uma atitude positiva em relação ao aprender.

A jornada de aprendizado deve ser vista como um processo contínuo. Quando os adultos reconhecem o esforço da criança e celebram cada passo, criam um ambiente mais seguro e encorajador, no qual o progresso verdadeiro pode acontecer.

Evite: Forçar Longos Períodos de Estudo Sem Pausas

Faça em troca: Use técnicas com pausas programadas, como o método Pomodoro ou divisão em blocos

Manter uma criança com TDAH concentrada por longos períodos é um desafio — e forçar sessões extensas de estudo sem pausas pode ser contraproducente. Essa prática aumenta a sobrecarga cognitiva, provoca irritação, agitação e reduz drasticamente a qualidade do aprendizado. O cérebro precisa de intervalos para processar as informações e recuperar o foco, especialmente em crianças com dificuldades de atenção.

Em vez disso, a estratégia mais eficaz é dividir o tempo de estudo em blocos curtos e bem definidos, intercalados com pequenas pausas. Uma técnica muito útil é o método Pomodoro, que consiste em 25 minutos de foco total em uma tarefa, seguidos por 5 minutos de descanso. Após quatro blocos, a pausa pode ser um pouco mais longa (10 a 15 minutos). Esse modelo ajuda a manter o cérebro engajado sem exaurir a atenção.

Outra abordagem semelhante é a divisão em blocos por conteúdo ou tipo de tarefa, alternando entre leitura, escrita, jogos educativos ou atividades práticas. Essas variações ajudam a manter o interesse e reduzem a monotonia.

O importante é respeitar o ritmo da criança. Cada intervalo programado deve ser usado para relaxar, movimentar-se ou fazer algo prazeroso e breve — e não como um “castigo”. Com o tempo, esse formato favorece não só a concentração, mas também a autonomia e o senso de organização.

Evite: Usar Castigos Como Forma de Correção

Faça em troca: Aplique reforços positivos e recompensas para incentivar comportamentos desejados

Punir ou castigar uma criança com TDAH por dificuldades de concentração, impulsividade ou esquecimento pode gerar efeitos opostos ao desejado. Em vez de promover aprendizado e melhoria de comportamento, o castigo tende a aumentar a frustração, a baixa autoestima e a resistência à aprendizagem.

Vale lembrar: essas crianças não agem assim por escolha, mas por características neurológicas que dificultam o controle dos impulsos e da atenção.

Uma abordagem muito mais eficaz é substituir o castigo por reforço positivo — ou seja, valorizar e recompensar comportamentos desejados assim que eles ocorrem. Isso pode ser feito por meio de elogios, adesivos, pontos, tempo extra em uma atividade favorita ou qualquer outra recompensa significativa para a criança. O reforço deve ser imediato e claro, mostrando exatamente o que foi feito corretamente (“Muito bem por terminar a tarefa sem se distrair!”).

Além disso, premiar o esforço, e não apenas o resultado final, é essencial para manter a criança motivada e mostrar que o progresso importa tanto quanto a conquista. Essa abordagem estimula o desenvolvimento da autorregulação, reforça a autoestima e fortalece o vínculo entre adulto e criança, criando um ambiente emocional mais seguro para aprender.

A mudança de foco — do erro para o acerto — é uma das ferramentas mais poderosas no ensino de crianças com TDAH.

Evite: Usar um Método Único para Ensinar Todos os Conteúdos

Faça em troca: Personalize as abordagens com métodos multissensoriais e baseados nos interesses da criança

Crianças com TDAH têm uma forma única de processar e reter informações, o que significa que um método único de ensino pode não ser eficaz para todas elas. Aplicar o mesmo tipo de abordagem a todos os conteúdos — como leitura, matemática ou ciências — pode resultar em desinteresse, frustração e até mesmo a sensação de incapacidade. Isso porque os métodos tradicionais, que muitas vezes envolvem apenas explicação verbal ou escrita, podem não ser suficientes para manter a atenção dessas crianças.

Em vez de um método único e rígido, é fundamental personalizar as abordagens de ensino. Um caminho excelente é utilizar métodos multissensoriais, que envolvem diversos sentidos (visão, audição, tato, etc.) para criar uma experiência de aprendizado mais dinâmica. Por exemplo, ao ensinar leitura, você pode usar cartões com letras e imagens, combinar com músicas, ou até brincadeiras de movimentação que ajudem a associar palavras a ações. Isso facilita a fixação do conteúdo e torna a experiência mais envolvente.

Além disso, adaptar o conteúdo ao interesse da criança é uma maneira de tornar o aprendizado mais atrativo. Se a criança gosta de super-heróis, por exemplo, é possível integrar temas desse universo ao conteúdo escolar. Transformar problemas de matemática em desafios de “salvar o mundo” com números ou criar histórias com personagens conhecidos pode tornar a tarefa mais divertida e significativa para ela.

Essas abordagens personalizadas ajudam a criança a se sentir mais conectada ao conteúdo, melhoram o foco e aumentam a motivação para aprender.

Evite: Criar um Ambiente Cheio de Estímulos Visuais e Sonoros

Faça em troca: Prepare um espaço calmo, organizado e com mínimo de distrações

O ambiente de estudo desempenha um papel crucial na aprendizagem de crianças com TDAH. Ambientes excessivamente estimulantes, com muitos estímulos visuais (como quadros coloridos, brinquedos, papéis espalhados) ou sonoros (como televisão ligada ou conversas em segundo plano), podem prejudicar significativamente o foco e a capacidade de concentração. Isso ocorre porque as crianças com TDAH têm uma tendência maior a se distrair com estímulos externos, o que faz com que elas percam facilmente o foco na tarefa.

O que pode ser feito em troca?

É fundamental criar um espaço calmo e organizado, onde as distrações sejam minimizadas. Um ambiente mais simplificado pode ajudar a criança a se concentrar no que realmente importa — a tarefa em questão.

Aqui estão algumas dicas para otimizar o ambiente de estudo:

  • Mantenha a mesa de trabalho organizada, sem objetos desnecessários que possam desviar a atenção.
  • Opte por cores suaves nas paredes e móveis, pois tons muito vibrantes podem ser excessivamente estimulantes.
  • Evite ruídos ao redor do espaço de estudo. Se for necessário, o uso de fones de ouvido com cancelamento de ruído ou música suave pode ser útil para melhorar a concentração.
  • Defina um local fixo para as atividades escolares, garantindo que a criança entenda que aquele é o momento para se concentrar e estudar.

Com um ambiente mais calmo e estruturado, a criança terá maior facilidade para manter o foco e realizar suas atividades de forma mais eficiente.

Evite: Corrigir de Forma Rígida ou Em Tom de Crítica

Faça em troca: Use uma comunicação empática e foco na construção de autoestima e confiança

Crianças com TDAH muitas vezes enfrentam dificuldades em manter o foco, o que pode levar a erros ou atrasos nas tarefas. Isso, por sua vez, pode gerar frustração tanto na criança quanto nos adultos responsáveis. Porém, corrigir de maneira rígida ou em tom crítico pode ter um impacto negativo. Em vez de ajudar a criança a melhorar, essa abordagem tende a aumentar a ansiedade e a baixa autoestima.

A forma como as correções são feitas é fundamental para o processo de aprendizagem e para a motivação da criança. Uma crítica excessiva pode fazer com que a criança se sinta desencorajada e com menos vontade de tentar novamente. Além disso, ela pode começar a associar o estudo a sentimentos de fracasso e medo, o que pode dificultar ainda mais seu progresso.

O que pode ser feito em troca?

O mais eficaz é uma abordagem empática e construtiva, que promova um ambiente de apoio e incentivo. Ao invés de focar nas falhas, é importante destacar os esforços e os avanços, por menores que sejam, e trabalhar juntos para encontrar soluções para as dificuldades.

Aqui estão algumas estratégias que podem ser úteis:

  • Use a comunicação positiva: Ao corrigir um erro, reforce o que a criança fez de certo e depois apresente a forma como o erro pode ser corrigido de maneira suave.
  • Aposte em frases construtivas: Ao invés de dizer “isso está errado”, tente algo como “muito bem, agora vamos revisar essa parte juntos para que você entenda melhor”.
  • Foque na autoestima: Reforce a ideia de que errar faz parte do processo de aprendizagem e que o mais importante é tentar novamente.
  • Elogie os esforços: Reconheça o esforço da criança, não apenas os resultados. Isso ajuda a construir autoconfiança e motiva a criança a continuar tentando.

Essa abordagem positiva e empática cria um ambiente de segurança emocional e estimula a criança a se sentir mais confiante e disposta a enfrentar novos desafios.

Evite: Ignorar a Participação Ativa da Criança no Processo

Faça em troca: Envolva a criança na criação de atividades e na tomada de decisões sobre como aprender

Uma das grandes dificuldades que crianças com TDAH enfrentam no processo de aprendizagem é a falta de engajamento com o conteúdo, o que pode gerar desinteresse e dificuldades de concentração. Quando o processo de ensino é unilateral — ou seja, a criança é tratada apenas como receptora passiva de informações — ela perde a sensação de autonomia e controle, o que pode resultar em desmotivação e até em resistência ao aprendizado.

O que pode ser feito em troca?

Envolver a criança ativamente na escolha e construção das atividades educacionais é uma forma poderosa de aumentar o engajamento e motivar a aprendizagem. Quando a criança se sente parte do processo, ela desenvolve uma maior responsabilidade pelo seu aprendizado, o que aumenta a probabilidade de sucesso. Esse envolvimento pode ser feito de diversas maneiras:

  • Incluir a criança na escolha das atividades: Pergunte o que ela acha mais interessante ou o que gostaria de aprender. Isso pode ser uma forma de adaptar o conteúdo ao que mais desperta o interesse dela, tornando a tarefa mais atrativa e menos cansativa.
  • Permitir decisões sobre como aprender: Deixe a criança escolher entre diferentes métodos de aprendizagem — como jogos, vídeos, leitura, dramatização ou atividades práticas. Isso dá a ela um senso de controle e participação no processo.
  • Ajustar os objetivos com a criança: Ao invés de estabelecer metas sem a opinião dela, converse sobre o que seria um objetivo alcançável. Isso ajuda a criança a se sentir mais investida no processo e entender o valor do que está aprendendo.
  • Criar momentos de feedback: Após atividades, converse com a criança sobre o que ela gostou, o que não funcionou tão bem e como melhorar. Esse diálogo constante pode ajudar a ajustar a forma de ensinar e garantir que ela esteja de fato aprendendo.

Essa abordagem também fortalece a relação de confiança e respeito entre educadores e crianças, criando um ambiente mais colaborativo e eficaz. Além disso, o envolvimento da criança no processo de aprendizagem contribui para o desenvolvimento de habilidades de tomada de decisão e autonomia, qualidades essenciais para a vida acadêmica e pessoal dela.

Conclusão

Ensinar uma criança com TDAH exige empatia, paciência e uma abordagem personalizada, pois cada criança é única e responde de maneira diferente aos estímulos do aprendizado. Ao evitarmos práticas que podem desencorajá-las ou aumentar a frustração, e ao aplicarmos estratégias mais eficazes, como divisão de tarefas, reforço positivo e personalização do ambiente de estudo, criamos condições para que elas se sintam mais motivadas e engajadas.

É importante lembrar que não existe uma fórmula mágica para o sucesso, mas a experimentação constante de diferentes métodos e a observação do que funciona melhor para cada criança são essenciais. À medida que entendemos as necessidades e preferências do aluno, podemos ajustar nossas abordagens e garantir um aprendizado mais eficaz e menos sobrecarregado.

Convidamos você a compartilhar suas experiências, desafios e estratégias que funcionaram para você no processo de ensino de crianças com TDAH. Juntos, podemos enriquecer a troca de ideias e apoiar mais famílias e educadores na jornada educacional de crianças com TDAH.

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